domingo, 30 de setembro de 2012

O ladrão de pássaros (parte 4)


   Ele ficou paralisado olhando pra mim ainda e eu fiquei com a garganta presa, sem conseguir falar nada. Quando finalmente consegui fazer minha garganta funcionar de novo, tive vontade de chorar, mas segurei-me para não demonstrar o que sentia. Ele foi se encolhendo devagar pra trás como se estivesse com medo de mim e eu ia juntando pra perto dele, acompanhando-o. Queria que ele percebesse que eu ainda era a mesma que um dia ele tivera conhecido.
   - O amor é quebrar, é queimar, é acabar. Não é? - Pausei apertando os lábios com uma das mãos e desviando os olhos - Eu lembrei. - Sussurrei. 
   - Eu não queria... Eu não achei... Que ia ser assim. - Ele estava assustado.
   - Você não é o seu pai, pequeno.
   Chamei ele do apelido que chamava ele, anos atrás, e acho que ele ficou mais sentido. Era sua vez de ficar com vontade de chorar, mas ele não iria chorar, principalmente na minha frente. 
   Ele se encolheu mais ainda e eu fiquei me perguntando se eu havia virado um monstro pra ele está desse jeito comigo. Era pra eu ter medo dele já que ele estava virando um psicopata como o pai. Abaixei a cabeça e sentei encostada na parede da esquerda. Fiquei ali pensando enquanto ele estava no canto escuro. Pensei no passado e em como ele não soube diferenciar e criar sua própria vida sem ter os pais como base. 
   Um tempo depois de pensamentos, ele, ainda com medo, sentou vagarosamente ao meu lado, mas não muito perto, talvez uns quatro palmos. Levantei a cabeça fazendo meu cabelo se arrumar e olhei pra ele. Ele se juntou mais de mim e dessa vez parece ter perdido o medo, pois se afastou tanto que deitou sua cabeça no meu ombro e agarrou meu braço. Parecia uma criança de cinco anos ou menos. Deitei minha cabeça na dele e disse:
   - Você nunca me disse o motivo de ter terminado comigo.
   - Eu não podia te fazer feliz como você queria ser.
   - Como você sabe?
   Ele retirou a cabeça do meu ombro lentamente e abaixou-a. 
   - Eu amava muito meu pai, queria realizar o último desejo dele. Só isso.
   - Estou com frio - Fugi do assunto assim como ele. Olhei pros lados para que ele percebesse que mudei de assunto.
   Ele passou o braço sobre meu ombro e se juntou mais a mim. Deitei minha cabeça no ombro dele e fiquei pensando - "Vai começar tudo de novo. Não se deixe levar por gestos carinhosos" - Aquilo me conquistava de uma maneira tão encantadora. 
   - Está tarde, melhor eu ir. - Olhei aqueles olhos azuis novamente.
   - Não vai, por favor. - Ele deu A piscada. Eu reconhecia aquela piscada dos dois olhos.
   Aquele vento novamente tomou conta daquele lugar, mas não foi um vento tão frio. Foi forte, mas numa temperatura normal. Foi um vento gostoso. Vento de praia, eu acho.
   Meu coração estava acelerando um tão pouco e foi sem eu perceber. Quando vi, meus olhos já não estavam mais abertos e minhas mãos já não eram mais minhas. E nem o meu coração. Sim, aquele momento junto ajudou muito nisso tudo. O medo já não tomava conta de nos dois, tinha algo maior. Bem maior.

Autora: Katlyn Neris
Foto editada pela mesma.

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